Quatro e treze da madrugada. Não consigo dormir. Acho que
tomei todo o café que tinha em casa, vi todos os filmes tristes que
víamos juntos, escutei todas as músicas que foram nossas umas duas vezes
e li todas as nossas cartas. Achei melhor não beber nada com álcool.
Acho que me suicidaria.
A quem sempre quisemos enganar, meu amor? Dizendo que eu e você era nós quando
só eu te pertencia e você fingia que estava em meus braços. Meu amor,
não sabe quantas vezes me machucou e quantas vezes me matou. Nessas
indas e vindas na minha vida, nessas indecisões e todo esse conceito de
bagunça resumido em você. Apenas você. Acho que já deveria ter
desistido. Acho que não vale mais a pena a dor que sinto, a que senti e a
que ainda vou sentir. Não vale mais a pena lutar pelo que está morto,
enterrado ou talvez nunca tenha nascido. Acho que deveria parar com
esses pseudo-finais esperando sempre um novo começo. Desses pensamentos
resumidos em “Eu vou parar de falar com ele. Eu vou esquecer ele. Eu
vou dar a volta por cima e aí ele vai me notar. Vai perceber que me ama
e vamos ficar juntos.” Acho que tenho de pôr um fim nisso logo.
Deixar de ser tua boneco, teu urso de pelúcia. Desses que usa quando
precisa de um pouco de amor, carinho, compreensão e um abraço. Dessas
que está sempre disposto a ser sua. Eu nunca quis se reserva, amor. Eu
nunca quis ser como brisa, que bate no teu rosto e vai embora. Ou como
as pedras que chuta, que hora dá atenção e outrora esquece e deixa pra
trás. Amor, me explica, como um sentimento tão bonito, pode doer tanto?
As coisas mudaram. Agora é tudo tão preto e branco, as músicas são
valsas sem graça, os céus nublados e cheios de nuvem. Tudo perdeu a cor.
As vezes acho que deveria ter guardado nosso amor numa caixinha, quando
ainda era colorido e bonito e ir embora da sua vida levando ele comigo.
Quem sabe assim você não cansasse, e qualquer dia aleatório eu te
chamasse pra tomar um café, te mostrasse tudo o que éramos e te
convidasse pra sentir tudo de novo. Acho que o truque era esse mesmo,
amor. Quem sabe assim, as chuvas agora fossem menos frias, barulhentas e
duradouras. […] Amor, eu preciso seguir minha vida.
Mas como sempre, quero saber se fica bem. Acho que isso começou a ficar
doentio e obcecado. Sabe, isso de te querer bem. Acho que se eu te
fizesse bem, seria bem mais fácil. Eu sempre me importei demais com
você, amor. Tanto que esqueci de mim. Tanto que me machuquei tantas e
tantas vezes, levando o medo de desistir e não achar alguém como você
depois. Tanto que já me arrisquei, tanto que já morri, tanto que já amei
e tudo isso pra cuidar de você. Ou pelo menos tentar. Amor, do fundo do
meu peito, espero que sinta minha falta. Espero que me esbarre. Espero
que me ache. Espero que esteja na pior das piores. Assim como estou
agora. Pode parecer que quero te castigar, pelo que fez comigo…Mas não. É
pra provar que se eu pudesse fazer tudo de novo, eu faria. Se depois de
tudo, você precisasse de colo, eu cuidaria de você. Eu te colocaria pra
dormir, eu cantaria pra você, eu seguraria suas mãos, te abraçaria. Ajeitaria teu cabelo, não te deixaria
beber, molharia teus lábios e faria carinho com a ponta dos dedos em
tuas bochechas. Eu faria tudo de novo, amor. Mesmo sabendo que não
valeria a pena. Mesmo sabendo o que aconteceria depois. Eu faria tudo de
novo. […] Sabe, amor, você nunca foi meu. Eu sempre
soube. Sempre. Mas só de segurar sua mão, eu sentia poder cuidar de
você. Mesmo você sendo de ninguém, sendo de si mesmo ou sendo dela. Você
precisava de alguém pra te cuidar. Precisava. Ah, amor…Talvez isso seja
passageiro. Seja rápido. Talvez eu só precise de um corte novo no
cabelo, algumas roupas novas, músicas novas. Ou talvez um pouquinho de
grana, uma casa pequena num lugar frio e um alguénzinho novo pra
garantir meus sorrisos de todos os dias, tomar café comigo e me ouvir
falar de amor. Talvez só precise de alguém pra substituir teu lugar.
Pode ser uma pessoa passageira. Que nem você fez comigo. Mas eu vou
cuidar dela. Eu vou dar carinho pra essa pessoa. Amor, de fato, foi bem
díficil amar pelos dois. Porque disse que me amava, amor? É medo de
ficar sozinha? (…) Eu não te abandonaria não, amor.
Você sempre foi meio sozinho, não é? Sempre enjaulada com esses seus
segredos, pensamentos e sentimentos antigos. Meio calado. Sempre
escondendo tudo o que sentia e toda a dor que te corrompia e calava com
essas festas, esses amigos por conveniência e essas pessoas substitutas.
Mas sempre teve as pessoas que te amavam. Não pelo que era agora. Mas
pelo que era antes. Pelo que fez antes. Pelo que fazia. Mas eu não me
importava não, amor. Eu amo cada detalhe seu. Passando agora pro
presente. Afinal, a quem quero enganar dizendo amava, se nunca vou
esquecer? Posso dizer nunca assim também, não é? Digo, você disse que
era pra sempre e durou alguns meses. Meu nunca pode durar isso
também. Ou não. Isso é o tempo, a vida e as vindas que decidem. Amor,
você não sabe quantas vezes me machucou. Isso pode estar soando meio
exagerado, revoltado e essas coisas…Meio pobre coitado. Mas você me conhece, amor. Nunca fui fraco assim. […] Amor,
talvez você só precise de um tempo. Um tempo pra organizar suas
ideias, seus pensamentos, seus sentimentos. Reorganizar as pessoas,
reinventar as prioridades. Limpar isso aí dentro, que pelo visto, está
uma bagunça. Está enrolado, cheio de pontas e machucando quem chega
perto. As vezes quem chega perto só pra cuidar. Amor, talvez
você precise de um tempo. Talvez esse tempo seja o suficiente pra que eu
já esteja longe. Fisicamente e sentimentalmente. Mas agora,
amor, eu vou embora. E vou deixar meu coração aqui. Enterrado, pra que
ninguém roube de novo. Não me grite, pois não vou voltar. Mas se quiser,
pode vir comigo. Vamos embora. Juntos, separados, amigos. Tanto faz. Eu cuido de você. Ou pelo menos tento. Como sempre. Só que dessa vez sem sentir.
adaptado : Pedro Rocha.
Olá, estou passando aqui para divulgar meu blog:
ResponderExcluirhttp://xxx-memories-xxx.blogspot.com/
Se gostar de lá e quiser seguir..
Obrigada pela atenção.
Beijos (:
Adorei o texto *-*
ResponderExcluirbjus ;*