“eu e você, daqui a alguns anos, morando juntos.
Não precisaríamos ser namorados, nem casados, nem nada disso. Apenas
amigos. E nós seriamos felizes, eu e você. Fotos de nós dois estariam
espalhadas pela casa. Fotos suas no meu quarto, fotos minhas no seu
quarto. Mas nós dormiríamos juntos. Pelo simples fato de eu te querer
por perto, e você me querer também. Pelo simples fato do seu quarto
estar bagunçado de mais e a minha cama ser perfeita para nós dois. Eu
teria medo do escuro, sem você. E eu andaria apenas com roupas íntimas, e
você fingiria não se importar. E eu fingiria acreditar. Eu fugiria de
você, correndo pela casa, rindo, com o controle da televisão, só pra
você não mudar o canal. E você me pegaria, e ficaríamos abraçados até o
silêncio nos constranger. Nossos sábados a noite seriam nostálgicos,
olharíamos todos tipos de filme, atiraríamos pipocas um no outro e
pediríamos uma pizza. Nostálgicos e perfeitos, porque depois dormiríamos
abraçados, no sofá da sala. Ao som da melodia dos créditos de um filme
de romance em que eu choraria do começo ao fim, e você riria de mim e
comigo. Iríamos ao supermercado uma vez por mês, comprar as mais
diversas porcarias. E não nos faltaria nada. Você não se importaria com
as minhas roupas espalhadas pela casa e pelo seu quarto. Eu não me
importaria com a sua bagunça diária, nem com a sua toalha de banho
atirada pelos cantos. Nos domingos a tarde, ficaríamos na sacada do
nosso apartamentinho no 3º andar, tomando chimarrão e cantando músicas
velhas. Olharíamos as pessoas lá em baixo, casais apaixonados, e
ficaríamos em silêncio, perdidos nos nossos próprios pensamentos. Suas
amigas viriam te visitar, e eu choraria em silêncio, no escuro do meu
quarto. Até elas irem embora e você ir dormir comigo, e perguntar se
chorei. Eu negaria. Você acreditaria. Me acordaria no meio da noite,
para contar um sonho que teve. E nós riríamos juntos. Me acordaria com
café na cama, ou com uma rosa roubada do jardim da casa vizinha. Eu
deixaria um recado sutil de amor na porta da geladeira antes de sair na
segunda de manhã para visitar meus pais. Poderíamos até ter um cachorro.
Poderíamos, juntos, levar ele para passear. E você decidiria pintar a
casa, e ela ficaria vazia, apenas com nós dois e nosso cachorro.
Deitaríamos no chão, e eu perguntaria em que você estaria pensando. Você
mentiria e me perguntava o mesmo. Eu mentiria. Eu iria para a
universidade todo dia de manhã, enquanto você ia para seu trabalho de
meio turno em uma empresa de sucesso. Você me amaria, em silêncio. Eu
também te amaria, em silêncio. Em alguns anos, eu estaria me formando em
letras, e você estaria no topo da carreira naquela mesma empresa. E
você me levaria pra jantar e me pediria em casamento. Eu aceitaria. E
seria uma linda história de amor.”
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